A Saideira de ontem.
A Saideira sobre Jornalismo Literário rendeu bastante ontem à noite no Zelig. Os convidados presentes - Carlos Urbim, Rafael Guimaraens e Renato Lemos Dalto - trouxeram a sua experiência com, digamos assim, este gênero e debateram sobre todo este panorama que acossa o jornalismo da atualidade: a falta de tempo, o imediatismo, a objetividade, o não investimento em grandes reportagens, etc. São grandes obstáculos que direcionam a profissão que deveria primar pela informação para uma indústria de "furos" inconsistentes e celebridades. Certa hora, inclusive, Renato - trazendo seu estarrecimento com a chamada "Caravana JN" da Rede Globo, a qual acabou se tornando A notícia - mencionou frase de Marques Leonam: "Quando o repórter é mais importante que a notícia, um dos dois é falso".
Apareceu por lá, também, Rodrigo Lopes. Repórter da Zero Hora, enviado especial do jornal para cobrir o massacre de Israel no Líbano, e representante de um curso de pós-graduação em jornalismo literário, promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Literário.
Resgata-se, abaixo, um post sob o título "Os Lados da Notícia" feito blog RBS mente, acerca de uma cobertura com certo teor literário que o próprio Rodrigo Lopes vinha fazendo do massacre israelense. A comparação com outro repórter/veículo é, no mínimo, interessante:
"O míssil arrebenta um prédio. Não há aviso ou sirene. O prédio rui. Os outros, ao lado, tremem. Fachadas desaparecem. Os pedaços das vitrines e janelas quebradas estalam nas ruas desertas de Haret Hreik, periferia no Sul de Beirute, capital do Líbano. É perto do aeroporto, alvo constante dos ataques do exército israelense, que ataca a cidade desde o dia 13. A maioria dos 500 mil habitantes do bairro abandonaram suas casas. Tentam sair do país. Para sobreviver".
(L'Humanité, reproduzido pela Agência Brasil de Fato)
"Imagine-se em Porto Alegre e os foguetes caindo sobre Tramandaí, no Litoral Norte. É esta relação que os moradores de Tel-Aviv têm com o atual conflito no Oriente Médio, que entrou ontem no seu oitavo e mais sangrento dia. O front é ao mesmo tempo tão perto e tão distante. Perto porque os mísseis Katiusha lançados pela guerrilha libanesa do Hezbollah estão matando israelenses a uma distância de 140 quilômetros de Tel-Aviv. Distante porque basta desligar a TV ou o rádio e ir tomar sol na belíssima praia do Mar Mediterrâneo para esquecer a violência".
(Rodrig Lopes - Zero Hora)
Não surpreende que veículos impressos invistam em repórteres que trabalhem com estilo diferenciado no tratamento da informação. Como se comentou na própria mesa da Saideira, está surgindo uma necessidade de se tornar os textos mais atraentes para a manutenção dos leitores, dos assinantes. Mesmo assim, uma grande questão que paira é a importância de não se confundir Jornalismo Literário com Literatura, com ficção ou com folhetim. Sendo de maneira direta e fria, ou com floreios de linguagem, a responsabilidade do jornalista para com a informação continua sendo a mesma.
Mas em qual dessas "categorias" estariam inclusos os grandes veículos impressos de hoje? Nesse sentido, cabe uma discussão ainda maior: se faz jornalismo mesmo nos grandes grupos de mídia? A resposta tem se visto no dia-a-dia...