Esse texto relata o que aconteceu com a nossa "Catinha" há mais ou menos 5 meses. Naquele momento não passamos esse texto adiante porque a dor de perder uma companheira era muito grande. Ainda é, mas...
Hoje temos três diabinhos que ela deixou por aqui destruindo a nossa casa, mas que nos deram a força para passar por tudo isso!!!
O que a morte de uma gatinha tem a ver com a violência?
É necessário alguns dias para se digerir a morte de um bicho de estimação e entender o que está por trás disso...
Oi. Me chamo Gustavo e moro na Rua Gomes Jardim, 1060/ap101, com minha namorada Têmis. Moro neste local (antes no 302) por pelo menos 24 dos meus 26 anos. Para o pessoal aqui da rua, sou filho do "Seu Eraldo", aquele com problema na perna, baita bonachão. Em frente ao meu prédio, há uma casa meio vermelha, bem cuidada, com um belo jardim na frente. Gradeada, como todos os domicílios desta cidade. Sem dúvida, uma necessidade. Nesta casa, há alguns cachorros da raça American Terrier. São, sem sombra de dúvida, belos espécimes. Várias vezes já parei para admirá-los, quando estes estavam no gramado da frente da casa.
Pois bem. Na noite de terça-feira minha gata - vira-lata - estava passeando por este mesmo gramado. Já sabíamos que ela fazia isso. Tínhamos ciência dos riscos de ela entrar no território daqueles cães. Assim como também temíamos por um atropelamento. Cães e gatos que passeiam muito pela rua são constantemente vítimas de uma série de coisas. Mas já havia vários meses e a gata meio que convivia com esse perigo. Na maioria das vezes, os American estavam presos na parte de trás da casa. Mas, nessa noite, a história foi diferente. Infelizmente, nossa gatinha acabou por morrer ali, no n° 1059 da rua Gomes Jardim. Fomos descobrir somente às 2 horas da manhã, depois de muito procurármos a gata pela rua.
Até aí, um trauma um tanto corriqueiro para quem tem bichinhos de estimação. Dói, mas passa. Só que este foi diferente. Começamos a conversar com pessoas que presenciaram o ocorrido. Para o nosso total espanto, não se tratou simplesmente de um acidente "cão x gato". Descobrimos que a dona da casa e dos cães estava presente quando a gatinha foi ao seu pátio. Um de seus cachorros estava a perseguir a gata e a encurralou, ao que se esperava que ela interviesse - pelo menos era o que as pessoas que estavam vendo imaginaram que iria acontecer... Mas não. Eis que surge um outro cachorro - solto por essa senhora - para "terminar o serviço". Segundo quem viu, eles "estraçalharam" a gatinha...
Não vimos e nem queríamos ver os restos mortais da gata. Ainda bem que não presenciamos o acontecido, apesar de estarmos em casa e conseguirmos ouvir praticamente tudo o que acontece na rua. Não sei, sinceramente, como reagiria se presenciasse. Agora, temos 3 pequenos filhotes órfãos de pouco mais de 3 semanas para cuidarmos. Até papinha temos que fazer...
Pois bem. Essa situação nos causa uma imensa revolta. A atitude que a dona dos cães e moradora desta casa teve, nos motiva a simplesmente não lamentar a morte de nossa gata, mas a tomar algumas atitudes. Ficamos com muita raiva, muita mesmo. Mas não dos cães, que não têm absolutamente nada a ver com essa história. Acreditamos piamente que nenhum animal deva ser culpado pela estupidez humana, que ensina a matar, que, sim, banaliza a violência.
Mas isso não é superdimensionar a morte de um "simples" gato?!
Não, de maneira nenhuma. Novamente, não estamos revoltados com a morte da gata, mas, sim, com a atitude das pessoas. Esta, sim, a real expressão das causas da violência em nossa sociedade. Havia se passado apenas 2 dias de um Referendo que versava exatamente sobre armas, sobre violência... É inadimissível que esse nível gratuito de violência e maldade se expresse assim, na nossa frente, esfregando-se em nossos narizes e nada se faça. Quem poderia provar o que pessoas com este tipo de comportamento seriam capazes de fazer?! E, transformar cães em arma, em bestas caçadoras de pequenos animais, nos parece ser impróprio para a vida na cidade.
Esses cães desta casa são muito bem tratados. São extremamente bonitos e estão em um ambiente em que não ameaçam ninguém, a não ser que se invada aquele espaço. É a mesma história em muitas outras casas. Mas ali, na frente das mesmas, há sempre um portão. O que nos preocupa é quem está com a chave...
Como jornalistas que somos, não poderíamos deixar de fazer este registro.