CATARSE
Catarse - (1) Termo utilizado por Aristóteles em sua Poética como objetivo final da tragédia. A palavra já era empregada na religião grega para indicar a purificação prévia e indispensável de um ritual olímpico; na medicina, como purgativo de humores maléficos e, na filosofia pitagórica, como retorno ao equilíbrio espiritual pela audição de música. No teatro, passou a significar o reconhecimento do "terror", experimentado pelo herói trágico (a ameaça à sua condição humana) e da "piedade", a aceitação de seu destino. É uma forma de conhecimento pela dor, cuja experiência conduz à purificação, ao alívio das tensões e à renovação moral. O reconhecimento das situações (anagnorisis), provocado pela catarse, cumpriria o papel, ao menos teoricamente, de transformar a ignorância em conhecimento, além de ser uma das fontes do prazer estético, na medida em que esta sensação é passível de ser recolhida diante do espetáculo oferecido pelo "outro".
Rousseau, no entanto, negou à catarse a possibilidade de mudar comportamentos, dizendo ser ela "emoção passageira e vã que não dura mais que a ilusão que a faz nascer, um resquício de sentimento natural logo abafado pelas paixões [...] e que nunca produziu o mínimo ato de humanidade" (Contrato Social). (2) Na teoria psicanalítica freudiana, indica a liberação das energias psíquicas reprimidas durante o processo de desenvolvimento do ego e do superego, e que se realiza pela lembrança ou reprodução de um conflito original, gerador de recalque. A catarse é obtida pelo método da livre associação das idéias, ou seja, da evocação voluntária e regressiva à experiência traumática.