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11/12/2007

Ditadura de chuteiras

Todas as ditaduras na América Latina foram muito bem pensadas e executados pelo império estadunidense.
Um dos grande exemplos da intelectualidade desses golpes sangrentos nas populações são as ações orquestradas em todos os campos do espectro social.
Não bastavam as bordoadas, assassinatos, o poder coercitivo militar e policial para os desmandos.
Os golpes precisavam ser culturais também.
E o futebol, na maioria desses países, é uma das expressões máximas da cultura.
Não à toa, no Brasil, se dizia nos fins da década de 1970: "Onde a Arena vai mal, um time no nacional" - e tivemos campeonatos com 98 clubes disputando...
Não à toa, o Flamengo e o Corinthians viram explodir as suas torcidas nacionalmente, em arquitetadas exposições de mídia e tudo o mais.
E, na Argentina, não poderia ser diferente.
Em 1978, a Copa do Mundo aconteceu por lá e teve a sua taça "comprada" pela ditadura daquele país - com grana estadunidense, diga-se de passagem.
A seguir, partes de uma matéria do jornalista argentino Ezequiel Fernández Moores, revelando diversos fatos que tornam, no mínimo, questionável o triunfo argentino sobre o selecionado peruano por 6 a 0, que tirou o Brasil da decisão.
Do Terra Magazine.

Copa de 78: detalhes de uma história obscura
(...)"Em minha própria terra, senti, eu juro, o pior de tudo... Todo mundo falando a mesma coisa: 'este traidor da pátria, por que vem aqui...'". Rodulfo Manzo nem sequer pode escapar à vergonha em San Luis de Cañete, a 140 km de Lima, sua terra natal. Confessou há alguns anos. Mas essa vergonha ameaça persegui-lo por toda a vida. Manzo foi um dos zagueiros-centrais da seleção peruana que foi goleada em 6 a 0 pela Argentina na Copa de 1978, em uma das partidas mais escandalosas da história das Copas do Mundo e cujos fantasmas foram resgatados esses dias por Fernando Rodríguez Mondragón.

(...)Foi nesse mesmo programa que Manzo, então um humilde pedreiro, contou que até seu próprio povo o chamava de "o vendido". Por que ele e não outro dos jogadores peruanos que atuaram naquela partida? Ocorreu que um ano depois, comprado pelo clube argentino Vélez Sarsfield, Manzo, numa conversa informal sobre aquele 6 a 0, respondeu uma piada em Buenos Aires afirmando que a Argentina teve que pagar em dinheiro para lograr essa goleada. Só horas depois teve que assinar uma retratação diante das câmeras de TV assegurando que jamais havia dito isso.

Também o goleiro argentino daquela seleção peruana, Ramón Quiroga, rachaçou sempre as suspeitas sobre sua figura, mas não sobre a de outros. "Dos que agarraram a grana, vários morreram e outros morreram para o futebol", disse Quiroga, numa entrevista ao diário La Nación, de Buenos Aires, do dia 8 de outubro de 1998, que logo, igual a Manzo, se encarregou de desmentir

(...)Quinze dias depois do Mundial, a Argentina do general Videla, que antes da partida tinha ingressado ao vestiário peruano junto com o ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger, "outorgou um crédito não reembolsável" ao Peru "para a aquisição de quatro mil toneladas de trigo a granel", segundo publicou o diário La Razón daquele dia, na sua página 11 e sob o título "Trigo". Essa doação, segundo afirmou o escritor inglês David Yallop em seu livro de 1999 "How they stole the game" ("Como eles roubaram o jogo"), formou parte do suposto acordo da ditadura argentina com a peruana, cuja seleção, a pedido do técnico Calderón, atuou nessa partina com a camiseta alternativa (vermelha), "para não passar vergonha com a tradicional alvi-rubra".

Yallop cita como autor do suborno o almirante Carlos Lacosta, homem forte da ditadura na organização do Mundial, logo premiado pela Fifa, que o designou vice-presidente. Lacoste, falecido em 2004, era mão direita do almirante Emilio Massera, por acaso o mais sanguinário e mais ambicioso politicamente dos três integrantes da Junta Militar que comandava a Argentina. Contra Lacoste e Massera apontou também o então Secretário da Fazenda da Argentina, Juan Alemann, crítico dos gastos que demandava o Mundial e que teve uma bomba explodindo em sua casa, localizada a metros de uma sede policial no elegante bairro Norte de Buenos Aires, no mesmo momento em que a Argentina marcava seu quarto gol no Peru. Era o gol que bastava para classificar-se como finalista do Mundial. "Quem armou toda essa operação sabia que iam ter quatro gols", disse Alemann no documentário de TV "A festa paralela".(...)


Leia a íntegra clicando aqui.

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Como escreveu o Eduardo Galeano no ótimo "Futebol ao sol e à sombra", os jornalistas alemães que foram cobrir a Copa de 1978 diziam que tudo lembrava muito a Olimpíada de Berlim (1936).
A diferença é que em 1936 o Hitler teve de engolir as várias vitórias do Jesse Owens sobre os "arianos", enquanto em 1978 os militares deram um jeito de garantir a vitória antes que algo "desse errado"...

11/12/2007, 17:00

 
Anonymous Anônimo disse...

Há mais histórias horripilantes sobre a Copa 78. Uma delas, diz respeito a escolha do estádio do Rosario Central como sede, antes seria a do N.O.B. Não recordo as razões da troca direito, tem a ver com a ditadura, mas corre o boato de que muitos desaparecidos políticos estão enterrados no estádio, clandestinamente, por conta da reforma. Está aí uma história que preciso retomar com meus amigos para contá-la direito. :-)

17/12/2007, 14:08

 
Anonymous Anônimo disse...

Ah! E tem uma música "Arde la ciudad" (2005) do grupo La Mancha de Rolando (argentino) que fala sobre a Copa de 78 e as prisões que aconteceram durante ela. Acho que vcs irão gostar dela.

17/12/2007, 14:12

 

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