Da minha MÃE...
Ainda não sei se ela entende mesmo, mas este texto é dela e é muito, mas muito bom...
ESCUTE!!!
Escute este choro silencioso que só eu escuto, porque ele nasce de dentro de mim.
Onde ir quando se olha ao redor e o cotidiano está cada vez mais denso, mais pesado?
Quando a esperança de um mundo melhor está cada vez mais distante?
Quando as esperanças pela justiça social vão por terra, após anos de luta?
Onde encontrar forças para continuar na luta, quando ao nosso redor tudo grita pelo consumo, pelo reducionismo, pelo esquecimento, pela negação de responsabilidades na violação de direitos?
- Eu não agüento mais...
Eu não agüento mais olhar para aquele adolescente na esquina que implora por comida a transeuntes indiferentes.
Eu não agüento mais ter que esperar que um banco estatal, que perdeu na justiça um processo trabalhista, não pague o que deve, levando ao desespero seu ex-funcionário que está perdendo tudo, porque não pode utilizar o dinheiro que é seu e que se encontra em depósito judicial.
Eu não agüento mais, porque quem tem seus direitos negados, não encontra voz e vez para garantí-los.
Eu não agüento mais ouvir o pensamento hegemônico circulando livremente por uma mídia comprometida e manipuladora.
Eu não agüento mais ouvir mentiras oficiais, oficiosas e cotidianas.
Eu não agüento mais a argumentação costumeira para manter privilégios e negar direitos.
Eu não agüento mais a desinformação, a falta de solidariedade, a falta de respeito.
Eu não agüento mais o desrespeito à Constituição Brasileira.
Eu não agüento mais saber que a educação virou mercadoria.
Eu não agüento mais tantas crianças na rua, tanta exploração sexual infanto-juvenil.
Eu não agüento mais saber que “um novo mundo é possível” e a todo instante me confrontar com as barreiras sociais, econômicas e políticas para destruí-lo.
Eu não agüento mais a dor de quem tem fome de justiça.
Eu não agüento mais a vaidade nas relações.
Eu não agüento mais o silêncio frente às injustiças.
Eu não agüento mais as drogas lícitas e ilícitas que amordaçam a rebeldia da juventude.
Eu não agüento mais o preconceito.
Eu não agüento mais o massacre de inocentes em guerras fratricidas justificadas pela ganância de poder.
Eu não agüento mais a destruição das florestas, a morte dos pássaros, o desrespeito à natureza.
Eu não agüento mais a ambição desmedida dos homens que pouco a pouco vão destruindo a sua própria humanidade.
Eu não agüento mais a minha consciência que me fez ver este mundo invisível e me deu a dimensão exata do significado da Questão Social!
Por qual caminho devo seguir?
Transformar esta angústia infinita em raiva incontrolável e sair aos quatro cantos numa batalha solitária de denúncias?
Ou parar e escutar o mundo invisível?
Escutar o choro da desesperança e não se imobilizar, porque, junto ao choro, posso agregar a esperança e a luta por mudanças cotidianas.
Escutar e olhar, para me dar conta do significado que é poder contribuir, ensinando quem não sabe ler a descobrir um novo mundo em que as letras articuladas lhe darão dignidade e sentido para a luta.
Olhar e se comprometer é transitar junto aos amortecidos pelo álcool e pelas drogas, trazendo para o debate que a luta pela dignidade e por um mundo melhor se faz pelo movimento e não por uma retórica passiva de quem se tornou um espectador da própria vida por não ter tido a coragem de lidar com suas próprias limitações e seguir adiante.
Logo, é se apropriar de que escutar é olhar, olhar é se comprometer e se comprometer é seguir na luta, mesmo que não se agüente mais...
Maria da Graça Maurer Gomes Türck
Assistente Social, Professora, mulher, filha, amiga, MÃE
2 Comentários:
Grande texto! Nós não agüentamos mais, mas temos que seguir na luta como a Graça disse. Manda um abraço pra ela. beijos da fabi
25/07/2006, 10:52
Muito bom mesmo.
25/07/2006, 11:51
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