Geral da Terra, do ar, do mar e da Lua... Alma das flores, das cores, das pessoas nas ruas... Geral de tudo que se vê, de tudo que se ouve, das verdades nuas.

18/06/2007

A Feiticeira e o ícone do Rock


Eram meio esquisitas as instruções. Nono andar. Quando a porta do elevador se abrir, estarão um velho, uma velha chinesa, um cachorro e a vidente. Eles vão te olhar e vão dizer alguma coisa. Térreo. Nono andar. Quando estiver de volta, só a vidente vai estar lá e ela vai te atender.
Descrente, fui. Mais esquisito do que as instruções foi me deparar com aquilo tudo acontecendo na realidade. Mas tinha uma diferença, a vidente era uma feiticeira e eu não era a única. Eram várias pessoas esperando para saber o futuro, para resolver seus problemas, para aliviar as angústias. Uma sala se transforma num pátio, o corredor, em sala de espera. Vi parentes e amigos. Senti as dores de uma vida com impasses, senti o calor de um amor presente. Esperei, esperei. Não pude agüentar, fui para a rua esquecer da espera. Pessoas passavam até que foram surpreendidas por um avião gigantesco que passava por cima de um prédio, deixando para trás, com guitarra e tudo, um grande nome do rock n´roll, que desatou a tocar enlouquecidamente o instrumento.

Lembrei que tinha que voltar para a minha consulta, pois sabia que a vidente feiticeira, com a qual nunca havia trocado uma palavra, gostava muito daquele grande ícone. Cheguei lá e a última pessoa saía da sua consulta. Ela olhou pra mim e perguntou se não poderia deixar para amanhã. Eu fiquei calada, com uma feição decepcionada, o que a motivou a me atender prontamente, utilizando seu último fôlego para tanto. Sentei e contei do show repentino que havia presenciado. Ela se lamentou, não acreditando que perdera o espetáculo. Naquele momento, vi a imagem da feiticeira fantástica se desconstruindo na minha frente. Eu era semelhante a ela. A imagem do velho, da velha chinesa, do cachorro e da vidente passaram pela minha cabeça pela última vez, até que voltei ao meu quarto, aconchegada pelas minhas cobertas, com os mesmos problemas e futuro desconhecido. Ainda bem.
imagem: Jason Thielke

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