Geral da Terra, do ar, do mar e da Lua... Alma das flores, das cores, das pessoas nas ruas... Geral de tudo que se vê, de tudo que se ouve, das verdades nuas.

22/03/2007

Olívio Dutra

Sentado tomando uma ceva em um daqueles bares da rua do Mercado Público de Porto Alegre, eu observava o movimento.
Era um final de tarde, e a luz se esvaía pelas frestas dos grandes edifícios que circundam o largo Glênio Peres.
O volume de pessoas andando para todos os lados crescia.
As pessoas tomavam os seus rumos, ou para casa após um longo dia de trabalho, ou para atividades no turno da noite no Centro da capital.
Os barulhos também eram muitos e diferentes.
Era o grito dos ambulantes vendendo tomatealhofrutaspilhaantenavideogameroupadvd e tudo o mais.
Era o barulho do motor dos ônibus, da música que forçava a sua passagem pelos ruídos, cruzando o largo desde o Chalé da Praça XV.
E é ali, naquele horário, que cruzam os caminhos milhares de cidadãos.
É ali que negro atravessa o rastro do branco, que cruza olhares com a prostituta, que sente o cheiro de urina dos moradores de rua, que olham sedentos a carrocinha do cachorro-quente, que serve o estudante, que paga com suas fichinas escolares, que ele comprou dos vendedores ilegais ali na esquina da Voluntários, que observam atentamente se não há fiscais em volta...
Este é o mundo real de uma cidade.
Sem ar-condicionado.
Sem conforto.
Sem perfume.
E é lá no meio da multidão que observo uma figura conhecida.
Um tanto franzino, um pouco corcunda até.
Uma figura incógnita, um ninguém como todos os que cruzam por ali.
Passaria batido, mas há algo que o entrega aos meus olhos: o vasto bigode.
Era Olívio Dutra.
Ex-prefeito de Porto Alegre, ex-governador do RS e ex-Ministro da República.
Cruzava o largo em direção à Praça Parobé para pegar o seu ônibus.
Mesmo quando prefeito e, posteriormente, governador, Olívio nunca perdia os seus hábitos - digamos assim - comuns.
Não foram poucos os que o encontravam em ônibus de linha, ou passeando pela cidade, ou até mesmo tomando uma cachacinha no Bar Naval, naquele mesmo Mercado Público que por ora eu me encontrava.
Olívio Dutra entra, então, para a galeria d'os caras por causa disso.
Porque é homem comum.
Em todos os meus anos de Porto Alegre nunca encontrei outras figuras públicas andando tão tranqüilamente por entre as pessoas como ele andava.
Sem claque, sem segurança.
Hoje, nosso invisível prefeito faz operação de guerra para entrar em carros oficiais na saída da Prefeitura. Temos uma governadora que não põe o pé na praça pública, prefere entrar em um ômega com ar-condicionado e fazer a volta na Matriz para chegar ou ao Tribunal, ou à Assembléia Legislativa.
São míseros 50 metros!
Metros estes infinitamente inferiores aos que presenciei Olívio andando naquele dia.
Aqueles não são gente. Não são povo.
Se acham mais. Se escondem em suas castas.
Esquecem-se que o Estado, na realidade, é de quem pega o ônibus, de quem põe o pé na calçada esburacada, de quem todos os dias cruza o largo em direção ao pôr-do-sol do Guaíba, mas nunca o vê, porque o ônibus parte para iniciar-se mais uma etapa da sua rotina de todo o dia: o voltar para casa.
Eu enxerguei um Olívio assim.
Voltando para casa sem ver o pôr-do-sol.
Pobre Rio Grande do Sul...

5 Comentários:

Blogger Rafael Corrêa disse...

Guga e Têmis,
que grande veículo esse de vocês.
Parabéns!

22/03/2007, 17:40

 
Blogger Fabiana disse...

Bah, Guga... o Olívio! Grande Olívio. Já peguei ônibus com ele, quando era o então prefeito de Porto Alegre... já tietei ele numa feira do livro... sou uma eterna fã dele. Merece ir pra galeria d'os caras.
Abração, casal 20.
Saudade.
Beijos
Fab

22/03/2007, 21:12

 
Blogger Aline Leão disse...

Graaaaaaande Bigode!

23/03/2007, 10:13

 
Anonymous Anônimo disse...

O Olívio é mesmo O CARA.
Pena que é o tipo de pessoa que parece que tem 'produção limitada'. Muito difícil achar outro como ele.

23/03/2007, 16:38

 
Blogger Guilherme Mallet disse...

Outro cara que anda pelo centro numa boa é o Sereno Chaise, ex-prefeito de Porto Alegre, até aquele 1º de Abril de 1964. Atualmente é presidente da CGTEE aquela estatal que está sofrendo perseguição da RBS por... nada. Por um ex-funcionário denunciado pela própria direção.

03/09/2007, 02:40

 

Postar um comentário

<< Home